domingo, 1 de julho de 2018

Minha casa é o mundo
Meu país é o cosmos
e minha família sois vós
Eça de Queiroz?
Kalil Gibran?
I dont know
A poesia não é de quem a escreve mas de quem precisa dela.
(extraído do filme O Carteiro e o Poeta)

domingo, 23 de julho de 2017

fragmento 
Tabacaria
(Álvaro de Campos heterônimo Fernando  Pessoa)


Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

domingo, 11 de junho de 2017


Legenda

1- Saramago
2- Machado de Assis
3- Olavo Bilac
4- Fernando Pessoa

domingo, 9 de abril de 2017


Legenda

1- Ismália  Alphonsus de Guimaraens
2- Poema do amigo aprendiz  Fernando Pessoa
3- Invictus   willian Henley
4- Augusto Cury

sábado, 28 de janeiro de 2017

"Extasiado diante de si mesmo, sem mover-se do lugar... o rosto fixo, absorvido com este espetáculo, ele parece uma estátua de mármore.
Deitado no solo, contemplando dois astros, que são os seus próprios olhos, contempla seus cabelos, sua face, seu pescoço de marfim, sua boca encantadora e a brancura de sua pele. Admira tudo aquilo que suscita sua própria admiração.
Em sua ingenuidade, deseja a si mesmo.
 A si mesmo dedica seus próprios louvores. Ele mesmo inspira os ardores que sente.
Ele é o elemento do fogo que ele próprio acende. 
E quantas vezes dirigiu beijos vãos à onda enganadora! Quantas vezes, para segurar seu pescoço ali refletido, inutilmente mergulhou os braços no meio das águas.
Não sabe o que esta vendo, mas o que vê extasia-o, e o mesmo erro que lhe engana os olhos acende-lhe a cobiça. 
Crédula criança, de que servem estes vãos esforços para possuir uma aparência fugidia? O objeto de teu desejo não existe. O objeto de teu amor, vira-te e o farás desaparecer.
Esta sombra que vês, é um reflexo da tua imagem. Não é nada em si mesma; foi contigo que ela apareceu, e persiste, e tua partida a dissipará, se tivesses a coragem de partir."

Metamorfoses (Origem de Narciso)
Ovídio (43 A.C.- 18 D.C.)


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão
Charles Baudelaire

Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar:após a filosofia a ação é indispensável.
Victor Hugo

Comer é uma necessidade do estomago, beber é uma necessidade da alma.
Victor Hugo


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Existem mais mistérios entre o céu e a terra do que pode imaginar a sua vã filosofia
William Shakespeare

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela 
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas tem ritmo-
para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
Mário Quintana

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Epígrafe

 Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.

Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugiu como um furacão,

Turbou, partiu, abateu,
 Queimou sem razão nem dó
– Ah, que dor!
Magoado e só,
– Só! – meu coração ardeu:

Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
 E dessas horas ardentes
 Ficou esta cinza fria.
 – Esta pouca cinza fria...


 MANUEL BANDEIRA 

domingo, 25 de dezembro de 2016

Desencanto

 Eu faço versos como quem chora
 De desalento... de desencanto...
 Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
 Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
 Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
 Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca. –

Eu faço versos como quem morre
Manuel Bandeira




sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Testamento
Manuel Bandeira
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.


Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.


Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.


Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!


Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida

Na luta em não lutei.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Dizem que o tempo ameniza
Isto é faltar com a verdade
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade


É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria
Emily Dickinson

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.



Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.




Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Oswald de Andrade

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Eterna Presença

Este feliz desejo de abraçar-te,
Pois que tão longe tu de mim estás,
Faz com que te imagine em toda a parte
Visão, trazendo-me ventura e paz.

Vejo-te em sonho, sonho de beijar-te;
Vejo-te sombra, vou correndo atrás;
Vejo-te nua, oh branco lírio de arte,
Corando-me a existência de rapaz...

E com ver-te e sonhar-te, esta lembrança
Geratriz, esta mágica saudade,
Dá-me a ilusão de que chegaste enfim;

Sinto alegrias de quem pede e alcança
E a enganadora força de, em verdade,
Ter-te, longe de mim, juntinho a mim.



domingo, 27 de novembro de 2016

Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.

Será que a liberdade é uma bobagem?...

Será que o direito é uma bobagem?...
A vida humana é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões.
E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens.
A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. Que há de vir .


Eu sou um escritor difícil 

Que a muita gente enquizila, 
Porém essa culpa é fácil 
De se acabar duma vez: 
É só tirar a cortina 
Que entra luz nesta escurez.


Mário de Andrade


Devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte.

sábado, 26 de novembro de 2016

Poema nos meus 43 anos
Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.

… de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016


Infância
(Drummond)

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé
Comprida história que não acabava mais.

No meio dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longe da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficara em casa cosendo
Olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robinson Crosoé.




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A burguesia, formadora de opinião, chuta o pau da barraca e, navega, pensando ser inatingível mas se esquece do balanço das águas do mar.
Filosofia de Juçui 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mario Quintana

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo.

Olavo Bilac

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

“Quando uma pessoa sofre um delírio, se chama loucura. Quando muitas pessoas sofrem um delírio, isso se chama religião.”

Robert M. Pirsig

“A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum.”
William Shakespeare

“Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.”
Voltaire

“A gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto humano.”
Victor Hugo


“Nada inspira mais coragem ao medroso do que o medo alheio.”
Umberto Eco



“A democracia é um erro estatístico, porque na democracia decide a maioria e a maioria é formada de imbecis.”
Jorge Luis Borges

sábado, 12 de novembro de 2016

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
(Alberto Caieiro heterônimo de Fernando Pessoa)